Como liderar times tech à distância
O futuro do trabalho (tech) é híbrido e a liderança precisa evoluir, mas como liderar times tech à distância com foco em performance, cultura e engajamento?
Hoje todos sabemos o que é home office, mas na IBM, quando o termo ainda não era conhecido, já no início dos anos 2000, após o bug do milênio, começamos a ter equipes trabalhando remotamente. Isso aconteceu inicialmente por uma questão de otimização de recursos, começamos a transferir atividades técnicas para regiões com mão de obra qualificada e custos mais baixos.
Esse movimento incluía desenvolvimento de aplicações, administração de sistemas, aplicação de patches e updates, backups e restores. Na época, os backups ainda eram feitos em fitas, e mesmo com robôs, era necessário alguém para trocar os cartuchos e essa tarefa específica não podia ser feita a distância.
Mas a pressão por redução de custos impulsionou a adoção de times distribuídos. Bastava conectividade para que aplicações fossem desenvolvidas e operadas de qualquer lugar. O Brasil se consolidou como um grande Delivery Center em Hortolândia, com muitas pessoas trabalhando fisicamente na IBM daquele município localizado no interior de São Paulo.
Com o tempo, a demanda cresceu tanto que já não era possível contratar apenas pessoas dispostas a trabalhar em Hortolândia. Começamos a buscar talentos em todo o Brasil, e muitos não queriam ou podiam se mudar. A solução? Permitir o trabalho remoto, o famoso home office.
Mas aí surgiu a dúvida: será que as pessoas realmente trabalhariam de casa? Ou passariam o dia assistindo TV ou fazendo algo não relacionado com o trabalho?
Liderança remota: mais do que ferramentas, é sobre confiança
A dúvida inicial foi respondida com resultados. A produtividade não apenas se manteve, em muitos casos, aumentou. Isso aconteceu de forma sustentável não 1apenas por conta das tecnologias disponíveis, mas porque foi feito um bom trabalho de liderança.
Mesmo assim, algumas situações engraçadas aconteciam. Até hoje me lembro de alguém que fazia parte do time, caiu no sono e roncava! E apesar de todos ficarem tentando acordá-lo remotamente, não teve como, a saída foi colocá-lo em mudo.
2020: o ponto de inflexão
A pandemia de Covid-19 em 2020 mudou tudo. De repente, o trabalho remoto deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade. A impossibilidade de nos reunirmos presencialmente forçou uma adaptação em massa. Mas será que todas as funções podiam ser feitas remotamente? Obviamente, não. Algumas atividades exigiam presença física. Ainda assim, a maioria das funções — especialmente em tecnologia — migrou com sucesso para o modelo remoto.
Hoje, sem a obrigatoriedade imposta pelas questões sanitárias, a dúvida permanece: será que ainda faz sentido exigir presença física para todas as funções?
Liderar times técnicos à distância exige uma mudança de mentalidade. Não se trata de controlar horários ou microgerenciar tarefas, mas de criar um ambiente de confiança, clareza e propósito.
Como garantir o comprometimento em uma equipe remota
Em ambientes remotos, o comprometimento não se mede por presença física, mas por entregas e responsabilidade. É essencial que cada membro do time saiba o que se espera dele — e tenha autonomia para executar.
- Estabeleça metas claras e mensuráveis
- Crie rituais de acompanhamento (sem exageros)
- Confie no profissionalismo do time — e cobre com base em resultados
Cultura distribuída
Construir cultura à distância é possível, mas exige intencionalidade. A cultura não nasce apenas dos encontros casuais no corredor, ela se constrói nas interações do dia a dia, nos valores praticados e nas decisões tomadas.
- Comunique valores com frequência e coerência
- Celebre conquistas, mesmo que pequenas
- Crie espaços para conversas informais (cafés virtuais, canais de descontração)
Engajamento e pertencimento
A distância pode gerar isolamento. Por isso, é fundamental cultivar o senso de pertencimento. Pessoas engajadas se sentem parte de algo maior.
- Reconheça contribuições individuais e coletivas
- Promova inclusão: todos devem ter voz, independentemente da localização
- Estimule a colaboração entre regiões e perfis diversos
Ferramentas são meio, não fim
Slack, Teams, Zoom, Jira, GitHub… as ferramentas são muitas, mas nenhuma substitui uma liderança clara e humana. Use a tecnologia para facilitar, não para vigiar.
- Escolha ferramentas que se integrem bem ao fluxo de trabalho
- Evite sobrecarga de canais e notificações
- Priorize a comunicação assíncrona sempre que possível
Conclusão: o futuro é híbrido, mas a liderança é humana
O trabalho híbrido e remoto é uma realidade consolidada. E liderar nesse novo contexto exige mais do que adaptar processos: exige empatia, clareza e propósito.
A tecnologia nos permite estar em qualquer lugar. Mas é a liderança que nos conecta, nos inspira e nos move na mesma direção.
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