Liderança transformadora: do ritmo sustentável ao propósito
Já vi empresas com benefícios incríveis voltados ao bem-estar, como um plano de saúde premium, programas de assistência psicológica, aulas de mindfulness, yoga, horários flexíveis e até espaços de descompressão totalmente equipados, em que as pessoas seguem exaustas.
Isso acontece porque se a cultura da sua empresa não sustenta esses investimentos, o impacto será limitado e, muitas vezes, frustrante. Não adianta investir pesado e não gerar engajamento. O que realmente mantém o bem-estar no contexto de trabalho são os valores vividos no dia a dia, muito mais do que aquilo que está no papel.
E as lideranças desempenham um papel fundamental e estratégico na manutenção dessa cultura. Neste artigo, explicarei por que e quais os benefícios disso para os resultados.
Cultura que gera ou drena energia
Como lembra Anna Lembke em Dopamine Nation (e aqui faço uma pausa para agradecer ao Gustavo Vitti, CHRO da Prosus Group, pela brilhante indicação deste livro), estímulos constantes e recompensas imediatas reduzem nossa capacidade de sentir satisfação de forma equilibrada.
No contexto de trabalho, isso se traduz em urgência crônica, sobrecarga de informações e pressão contínua em um ambiente que drena energia.
Uma cultura saudável é aquela que protege a energia das pessoas e cria ritmos sustentáveis. Isso não significa acomodar-se, mas encontrar o equilíbrio entre alta performance e momentos genuínos de recarga.
Segurança psicológica: base para performance
Amy Edmondson, em The Fearless Organization, reforça que, sem segurança psicológica, inovação e resiliência ficam comprometidas.
Na prática, criar um ambiente seguro significa permitir que o espaço de trabalho seja um local onde todos se sintam confortáveis para compartilhar, errar, pedir ajuda e propor ideias sem medo de retaliação. Sem isso, conversas sobre sobrecarga e qualidade de vida no trabalho simplesmente não acontecem e sinais de esgotamento passam despercebidos.
Liderança que transforma
Programas e políticas, por si só, não são capazes de transformar a cultura. O que realmente provoca mudança é o exemplo dado por nós, líderes da organização. Liderar de forma transformadora significa inspirar confiança, estabelecer limites claros, demonstrar cuidado genuíno e, acima de tudo, viver diariamente os valores que desejamos promover.
Liderança comprometida é aquela que não apenas apoia iniciativas de bem-estar, mas comunica sua importância, remove barreiras e garante que essas ações façam parte da rotina e das decisões estratégicas. Quando isso acontece, a qualidade de vida no trabalho deixa de ser um esforço paralelo e passa a gerar resultados concretos, percebidos inclusive no retorno sobre investimento.
O estudo ROI do Bem-Estar 2025 do Wellhub mostra que empresas com liderança engajada têm ganhos claros, como maior retenção, menos absenteísmo e custos de saúde mais baixos. O maior desafio não é o orçamento, mas o engajamento real, que é, essencialmente, produto de cultura e liderança.
Como líderes de pessoas e profissionais de RH, devemos proteger o tempo e o foco dos nossos times, garantindo que a urgência não se torne regra e que o ritmo de trabalho seja sustentável. Isso implica participar ativamente das ações que promovemos, incorporando na prática os valores que defendemos.
Também é nosso papel cultivar segurança psicológica em cada interação, criando um ambiente de confiança genuína que permita a todos se expressarem e contribuírem de forma plena.
Por fim, precisamos mensurar o impacto dessas iniciativas e traduzir esses resultados em indicadores claros para o negócio, reforçando o valor estratégico da qualidade de vida no trabalho.
Bem-estar corporativo não é um programa à parte: é o reflexo diário de como lideramos, comunicamos e cuidamos das nossas pessoas. Quando a cultura sustenta segurança psicológica, promove ritmos saudáveis e conecta propósito a resultados, o retorno é inevitável.
Essa é a jornada que eu me comprometo a trilhar e para a qual convido todas as pessoas em papel de liderança e profissionais de RH a se unirem. Juntos, podemos transformar a qualidade de vida no trabalho em parte essencial da cultura e do sucesso das nossas organizações. Vamos juntos?


