RH, a IA chegou: é hora de sair do suporte e liderar o negócio | Koru
Sabe aquela busca infinita pelo tal "RH estratégico"? Se passamos tempo demais tentando afirmar esse título, talvez seja um sinal de que, na prática, ainda não chegamos lá. O meu convite é mais direto: vamos parar de buscar um adjetivo e assumir de vez um papel de líder de negócio.
Eu sei, não é simples virar essa chave. Viemos de um histórico de sermos uma área de controle. Mas o cenário atual está exigindo essa mudança.
Se a IA está modificando a forma como as pessoas trabalham, cadê o nosso lugar na mesa de discussão?
Participei de alguns eventos globais sobre Inteligência Artificial e algo sempre me incomodou: onde estão os profissionais de gente e gestão? Com a IA redesenhando cargos e mercados, a nossa ausência nessas discussões me alarmou.
Por que não estamos na mesa em que as decisões são tomadas? Pode ser por uma verdade dura, que recebi em uma mentoria e mudou a minha carreira: “Se você não é chamado para a mesa, é porque ainda não é visto como alguém que contribui.”
Analisando pelo lado bom, este é o cenário perfeito para sermos protagonistas. Afinal, a geração de valor com IA é, antes de tudo, um desafio cultural e organizacional, e não apenas tecnológico. Precisamos, para além dos algoritmos certos, dos humanos certos. Costumo dizer que estamos no melhor momento para usar as habilidades e conhecimentos que temos.
Para liderar essa transformação, precisamos nos portar como lideranças de negócio, e não lideranças funcionais.
Guia para sair do suporte e liderar o negócio
Vários reports e pesquisas já afirmam que:
- Metade da força de trabalho já precisa de novas habilidades por causa da IA.
- Times serão cada vez mais híbridos, com humanos e IAs trabalhando lado a lado.
- Existe um potencial de performance com IA em atividades automatizadas ou co-pilotadas por IA, ao mesmo tempo, grande parte dos projetos ainda não comprovam ROI;
- O impacto no mercado de trabalho é real, com escassez de talentos para novos trabalhos que surgirão, e automatização de tarefas mais operacionais e de entrada.
Ignorar isso não é uma opção.
A verdade é que vivemos em um momento de mudanças numa velocidade nunca vista antes. A frase “hoje é o dia mais lento do resto da sua vida” nunca foi tão real. Se alguém diz que sabe exatamente o que vai acontecer, provavelmente não está consciente do cenário, ou está mentindo. Mas num cenário de incertezas, podemos assumir a direção e a atuar como construtores desse futuro.
Segundo o pesquisador Josh Bersin, o RH sistêmico evolui da entrega de serviços para ofertas de produtos e, finalmente, para consultoria. O CHRO deve ser um parceiro-chave do CEO, medindo o êxito pelo sucesso do negócio.
Para isso, o papel da área vai mudar: menos foco em serviços, mais atuação como consultor e arquiteto de sistema de talentos. Isso significa ter fluência em três áreas-chave, quase como um checklist para a sua atuação:
1. Conhecimento em Negócio: você realmente sabe responder?
- Como a nossa empresa ganha dinheiro? Qual é o nosso momento atual (crescimento, estabilidade, crise)?
- O que os nossos clientes mais importantes falam sobre nós? Quem são nossos principais concorrentes e o que estão fazendo?
- Como está o nosso mercado? Quem são nossos concorrentes?
- O quanto a IA impacta o nosso negócio?
2. Fluência em Pessoas e Futuro: como estamos nos preparando?
- Temos as pessoas com as habilidades certas, nos lugares certos, para hoje e para o futuro?
- Que habilidades podemos substituir pela IA, e que habilidades devemos proteger contra a atrofia?
- Nossa cultura ajuda ou atrapalha a nossa estratégia de negócio?
- Nossa liderança está preparada para colocar mudanças dentro da rotina e normalizáa-las?
- Que partes da experiência do colaborador se beneficiam da automação e onde queremos preservar o toque humano?
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3. Posicionamento: Como você se porta quando é chamado a participar?
- Você age como consultor ou como executor? Um consultor questiona e provoca; um executor apenas entrega o que foi pedido.
- Sua mentalidade é de líder de negócio? Você se preocupa mais com o cliente final e o resultado da empresa ou com o processo interno do RH?
- Você troca controle por experimentação? Testa hipóteses de maneira ágil?
- Quando te perguntam qual seu posicionamento sobre um tema, você tem embasamento para responder e ocupar o seu lugar?
Conversando com muitos RHs vejo que o que nos impede de fazer essa transição muitas vezes é ainda estar no piloto automático e o medo de errar. Não podemos mais usar soluções de ontem para os desafios de hoje.
É hora de virar a chave na nossa própria cabeça. Trocar o "E se der errado?" pelo "E se for exatamente isso que vai destravar o próximo nível do nosso negócio?".
O caminho é desafiador, mas o impacto de ter um RH que realmente lidera é transformador. E, se você não assume a liderança, alguém liderará por você. Então, a pergunta final é:
O que você fez hoje te aproxima ou te afasta da mesa onde as decisões acontecem?