Mapeamento de riscos psicossociais: Como preparar minha empresa para a NR-1
As empresas brasileiras têm até abril de 2026 para se adaptarem às novas regras da NR-1, que agora inclui a obrigatoriedade do mapeamento de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Com essa mudança, a saúde mental deixa de ser apenas um discurso e passa a ser uma exigência legal.
Os números mostram a urgência do tema: em 2024, o Brasil registrou 440 mil afastamentos por transtornos mentais — um aumento de 67% em relação a 2023, segundo o Ministério da Previdência Social. Desse total, 255 mil casos foram ligados a ansiedade e depressão, um alerta para empresas que ainda não tomaram medidas.
Originalmente, a norma entraria em vigor em maio de 2025, mas, diante das dúvidas e da complexidade do tema, o Ministério do Trabalho concedeu um prazo educativo de um ano para as adequações. Após esse período, organizações que não cumprirem as regras estarão sujeitas a multas.
Neste artigo, explicamos o que muda com a nova norma, como mapear riscos psicossociais de forma prática e qual o papel das lideranças para que essa transição vá além do checklist e gere transformação real.
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O Que São Riscos Psicossociais?
Riscos psicossociais são fatores no ambiente de trabalho que podem prejudicar a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores.
Entre eles estão excesso de demandas, ambiguidade de funções, baixa autonomia, falta de apoio social, assédio moral e falhas na comunicação, entre outros.
Embora nem sempre sejam evidentes, seus efeitos são significativos: estresse elevado, redução da produtividade, afastamentos frequentes e até doenças graves, como ansiedade, depressão e burnout.
O Brasil vive hoje uma crise sem precedentes em saúde mental no trabalho. Só em 2024, houve 472.328 afastamentos por transtornos como ansiedade e depressão — o maior número em dez anos, com um aumento de 68% em relação a 2023.
Os dados, do Ministério da Previdência Social, revelam os efeitos acumulados da pandemia, instabilidade financeira, excesso de trabalho e piora nas condições psicológicas no mercado.
O perfil mais comum entre os afastados é o de mulheres com média de 41 anos. Especialistas atribuem isso à dupla carga social e econômica que enfrentam: salários menores, responsabilidades familiares e impactos desproporcionais da pandemia. Além disso, mulheres costumam buscar mais auxílio médico, o que eleva os diagnósticos.
Os principais motivos para o aumento dos afastamentos incluem:
- Luto e estresse pós-pandemia;
- Custo de vida mais alto (alimentos 55% mais caros entre 2020 e 2024);
- Informalidade e instabilidade no emprego;
- Exposição prolongada a ambientes de trabalho tóxicos.
Entender os riscos psicossociais é essencial para combatê-los — e isso exige ir além dos sintomas, analisando as causas profundas no dia a dia do trabalho.
O Que Diz a Nova NR-1 Sobre os Riscos Psicossociais?
A nova NR-1, que trata das disposições gerais sobre segurança e saúde no trabalho, passou a incluir de forma explícita os riscos psicossociais como parte obrigatória do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). Isso representa um avanço importante no reconhecimento da saúde mental como componente essencial da prevenção de acidentes e doenças do trabalho.
Na prática, isso significa que as empresas devem identificar, avaliar e controlar os fatores psicossociais que possam comprometer o bem-estar dos trabalhadores. Esses fatores agora estão ao lado de riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
A inclusão dos riscos psicossociais na norma eleva a complexidade da gestão, exigindo que as organizações estejam mais atentas a questões como assédio moral, jornadas excessivas e ambiente organizacional tóxico.
O Ministério do Trabalho estabeleceu um prazo educativo até maio de 2026, com caráter orientativo e sem autuações nesse período. No entanto, o mês de maio de 2025 marca o início da vigência da norma, e as empresas já devem se preparar.
Ainda, especialmente após suas atualizações recentes, a norma estabelece diretrizes gerais para gestão de riscos ocupacionais e exige mais do que apenas o mapeamento de perigos.
Ela impõe a obrigação de adotar medidas concretas de prevenção e controle, o que inclui a formulação e execução de planos de ação com foco na saúde e segurança do trabalhador — inclusive saúde mental.
Como funciona o plano de ação na NR-01
A base da NR-01 é o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), que deve ser estruturado em torno do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Esse programa exige que a organização:
1. Identifique perigos e avalie riscos
O empregador deve mapear todos os perigos presentes no ambiente de trabalho (inclusive os psicossociais, como estresse, pressão excessiva, assédio etc.).
A avaliação deve considerar a gravidade e a probabilidade de ocorrência de lesões ou agravos à saúde.
2. Desenvolva e implemente um plano de ação
Para cada risco identificado, a organização deve propor medidas de prevenção, controle ou mitigação.
Isso pode incluir mudanças na carga de trabalho, criação de protocolos de apoio psicológico, pausas regulares, treinamentos em saúde mental etc.
O plano precisa definir responsáveis, prazos e formas de verificação da eficácia das ações.
3. Acompanhe e revise o plano periodicamente
A NR-01 exige que o PGR (e seus planos de ação) seja monitorado continuamente e revisto:
- Sempre que houver mudança nos riscos.
- Após incidentes ou acidentes.
- Pelo menos uma vez por ano.
4. Integração com saúde mental
Embora a NR-01 não cite “saúde mental” de forma direta em todos os pontos, ela deixa claro que agravos à saúde incluem qualquer condição prejudicial ao bem-estar do trabalhador — o que naturalmente abrange doenças mentais, transtornos relacionados ao trabalho, estresse ocupacional, burnout, etc.
Portanto, se a organização identificar, por exemplo, níveis elevados de estresse em determinada equipe ou setor, ela deve, obrigatoriamente, registrar isso no PGR e elaborar ações específicas para:
- Prevenir agravamentos (ex: acompanhamento psicológico, revisão de metas, treinamentos de liderança, etc.).
- Reduzir o impacto sobre o trabalhador.
- Minimizar afastamentos (CID-F) e seus custos associados.
Como Fazer o Mapeamento de Riscos Psicossociais
Mapear riscos psicossociais envolve um processo técnico e contínuo, que exige escuta ativa, dados confiáveis e análise contextualizada da realidade de cada equipe.
O primeiro passo é compreender os principais fatores de risco psicossocial, como:
- Excesso de carga de trabalho
- Falta de clareza nas funções
- Estilo de liderança autoritário ou negligente
- Falta de reconhecimento
- Baixa previsibilidade ou segurança no trabalho
- Relacionamentos interpessoais conflituosos
Esses fatores devem ser identificados por meio de entrevistas, grupos focais, análise documental e indicadores de saúde e desempenho, como absenteísmo, rotatividade e licenças médicas.
É praticamente impossível diagnosticar transtornos como burnout sem considerar o contexto de trabalho e as condições reais vividas pelos colaboradores. Isso reforça a importância de integrar perspectivas qualitativas e quantitativas no mapeamento.
Outro ponto essencial é o envolvimento do RH, da CIPA, das lideranças e da alta gestão, garantindo legitimidade, confidencialidade e ações concretas após a escuta.
O mapeamento não pode ser um fim em si mesmo — ele deve orientar decisões e transformações na cultura e no clima organizacional.
Por Que o Mapeamento Não Deve Ser Apenas um Check na NR-1?
Embora a nova NR-1 exija que as empresas realizem o mapeamento dos riscos psicossociais, é importante entender que isso não deve ser encarado apenas como um checklist para evitar penalidades ou cumprir formalidades.
O mapeamento deve ser encarado como um processo transformador, que impacta diretamente na qualidade de vida no trabalho e no desempenho organizacional.
A gestão de riscos psicossociais não deve ser limitada à identificação e à documentação dos problemas. Ela exige um compromisso real de transformação das condições de trabalho, com ações que envolvam mudanças estruturais, comportamentais e culturais.
Se o mapeamento for feito apenas para atender à norma, sem uma estratégia clara de intervenção e melhoria contínua, ele perde sua efetividade.
A necessidade de as empresas adotarem uma mentalidade preventiva e proativa em relação à saúde mental no trabalho.
Não basta apenas prevenir os riscos — é essencial criar um ambiente verdadeiramente saudável, onde os colaboradores se sintam apoiados, respeitados e motivados.
Nesse contexto, a NR 1 ganha relevância ao prever ações de suporte quando os impactos à saúde mental já estão presentes.
Embora a prevenção e a promoção da saúde devam ser prioridades, é preciso reconhecer que muitos profissionais já enfrentam desafios, e a empresa tem o dever de agir diante disso.
Bem-estar e saúde mental vão muito além de oferecer benefícios voltados à qualidade de vida — embora esses também sejam importantes, não substituem uma abordagem estratégica e integrada.
Essa abordagem holística não só ajuda a evitar doenças relacionadas ao trabalho, como também fortalece o engajamento, a produtividade e traz uma visão positiva para a marca empregadora.
O mapeamento contínuo permite à empresa adaptar-se rapidamente a novas demandas e promover ações de melhoria contínua, baseadas em dados reais e não em suposições.
Papel da Liderança na Prevenção de Riscos Psicossociais
A liderança desempenha um papel crucial na prevenção e no manejo de riscos psicossociais dentro das organizações.
Os líderes devem estar atentos ao clima organizacional e promover práticas que favoreçam a saúde mental, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e o respeito às diferenças.
Isso envolve, por exemplo, a implementação de práticas de feedback constante, o reconhecimento do esforço dos colaboradores e o encorajamento do desenvolvimento profissional, que ajudam a mitigar riscos como o estresse excessivo e o burnout.
Segundo uma pesquisa da Folha de S. Paulo, quase metade dos brasileiros se sente estressada no trabalho, e o Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados de Burnout no mundo. Este dado revela a necessidade urgente de ações preventivas que devem ser encabeçadas pelos líderes.
Eles não só devem identificar e mapear os riscos psicossociais, mas também criar um ambiente de confiança para que os colaboradores possam se abrir sobre suas dificuldades emocionais e psicológicas sem medo de estigma ou represálias.
A liderança inclusiva, que promove um clima de empatia e respeito, pode ser a chave para a redução dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho.
Além disso, um treinamento adequado para gestores e RH, que forneça ferramentas para identificar sinais de estresse e outras condições psicossociais, pode fazer toda a diferença na criação de um ambiente saudável e sustentável.
Como a Koru Pode Apoiar sua Empresa
A Koru está pronta para apoiar sua empresa na adaptação às novas exigências da NR-1, oferecendo suporte prático e estratégico para criar processos e programas de suporte, promoção e prevenção, englobando sensibilização para os líderes e times em relação a saúde mental e inclusão, assim como assédio.
Entendemos que construir uma cultura organizacional mais saudável e inclusiva exige mais do que ajustes operacionais. É um processo contínuo de aprendizado e preparação — especialmente das lideranças e equipes de RH — para enfrentar desafios complexos como o cuidado com a saúde mental.
Uma pesquisa realizada pela Koru em parceria com a Flash revelou que 64% das empresas brasileiras ainda não têm um plano formal voltado à saúde mental dos colaboradores. Com a atualização da Norma Regulamentadora 1, esse cenário precisa mudar.
Nesse contexto, nossa Aceleração de RHs se destaca como uma imersão prática e transformadora. O programa prepara gestores e profissionais de RH para atuarem como protagonistas na construção de ambientes corporativos mais saudáveis e conscientes.
Em nossa aula dedicada à saúde mental, compartilhamos as melhores práticas para identificar, monitorar e mitigar esses riscos, promovendo um ambiente de trabalho mais seguro e produtivo.
Além disso, o programa oferece ferramentas e metodologias baseadas em estudos de caso reais, com foco em prevenção do burnout, gestão do estresse e promoção da saúde mental como parte da estratégia de negócios.
Dessa forma, sua empresa não apenas se adequa às exigências legais, mas também avança em direção a uma cultura que valoriza genuinamente o bem-estar das pessoas. Invista em um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável. Prepare sua empresa para a NR-1 com o apoio da Koru e promova uma cultura de saúde mental que beneficie tanto os colaboradores quanto a performance da organização.