Empresas que não desenvolvem novas capacidades perdem a relevância ou deixam de existir. Simples assim. A velocidade e a assimetria como as coisas hoje acontecem não permitem que seu negócio ou as pessoas que estão nele fiquem paradas no tempo.
Lembro que quando eu estava na faculdade, as aulas de inovação traziam casos japoneses, em que já se lançava um produto com a tecnologia seguinte, que mataria esse produto, já sendo desenvolvida. O exemplo mais clássico é a sequência: fita VHS, DVD, BluRay. “Peraí”. “Blu-o-quê???”
No início dos anos 2000, já não era possível controlar a evolução do mundo como as gigantes de tecnologia orientais pretendiam fazer. O BluRay, que era basicamente um DVD mais “potente”, nunca foi algo relevante porque tecnologias como o smartphone e o streaming obliteraram suas chances de dar certo.
Foram poucas vendas, serviu somente de conteúdo de inovação para uma aula que, com o BluRay, já nasceu ultrapassada.
Quando falo de assimetria, falo justamente disso – você não consegue prever de onde a próxima onda de inovação virá e muito menos quais os efeitos dela no seu negócio. É aí que reside um dos pontos mais importantes da aprendizagem para vida inteira.
É essa capacidade de aprendizado das pessoas e do seu negócio que faz com que o risco da concorrência seja reduzido.
Claro que a aprendizagem não é o único fator decisivo, mas é o fator inicial. Empresas sem pessoas constantemente aprendendo e evoluindo não destravam os próximos níveis do jogo dos negócios de hoje em dia.
Novos processos, novos produtos, novas tecnologias e novos mercados só surgem a partir de ideias e ações de pessoas inquietas e espaço livre para criação.
Como fazer para ter este ambiente, então? Criar uma cultura de aprendizado é difícil e passa pela organização de vários dos processos internos para que uma cultura com este elemento aflore. Mas se eu puder sugerir, começaria por montar uma universidade corporativa de respeito, com orçamento relevante e espaço para propor.
Começaria mapeando as funções atuais do negócio e qual seria o próximo passo das pessoas que ocupam essas posições.
As lideranças já possuem capacidades digitais? Os engenheiros e engenheiras de dados dominam machine learning? Inteligência artificial? Blockchain? Quais funções estão se tornando menos relevantes? As pessoas que ocupam estas funções podem ser realocadas mais facilmente se obtiverem quais conhecimentos?
O passo seguinte é comunicar ostensivamente sobre a necessidade de se atualizar e abrir espaços na agenda corporativa para isso.
Dar este tipo de espaço faz com que as pessoas entendam que, atualmente, aprender e evoluir faz parte da rotina de trabalho. Estimule que elas estudem algumas horas por semana e organize a rotina da sua empresa para isto ser possível.
O terceiro ponto que sugiro é trabalhar com os parceiros corretos. Se você quer trazer conhecimento novo para o seu negócio, precisa estar conectado a startups, escolas, polos de inovação e outras instituições que aportem novas referências e conhecimentos. Santo de casa, neste caso, não faz milagre sozinho.
Por fim, dedique o tempo das lideranças para se conectar com as pessoas expostas a novos conhecimentos e reconheça estas pessoas.
Logo ideias começarão a surgir e, caso você organize um processo para coletar e priorizar estas ideias, já já a inovação vai nascer mais naturalmente no seu negócio.
É claro que nem tudo se resume a upskilling, mas se você precisa escolher por onde começar, o fato é que este é um ótimo primeiro passo.
E se as minhas aulas de inovação na faculdade não serviram pra tanta coisa, deixo aqui uma lição bem mais completa e profunda:
“Camarão que dorme a onda leva”
(Zeca Pagodinho / Arlindo Cruz / Beto Sem Braço)