O racismo estrutural e seu impacto na vida das pessoas negras
No fim do ano passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou alguns resultados de um estudo chamado Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, que escancarou algumas realidades pra gente, como por exemplo as desigualdades por cor ou raça em áreas como empregabilidade, educação, violência, moradia, distribuição de renda e representação política, nas quais pessoas pretas e pardas seguem com uma tendência histórica de menor acesso em relação às pessoas brancas.
Embora as populações preta e parda representem 9,1% e 47% da população brasileira, respectivamente, os indicadores que refletem os melhores níveis de condição de vida mostram que a participação desses grupos é mais baixa.
Para começar, as diferenças salariais são enormes entre brancos e pretos. Segundo dados do IBGE, a diferença média salarial entre homens brancos e pretos é de cerca de 30%. Para as mulheres, a disparidade é ainda maior: mulheres negras ganham em média apenas 42% do salário de homens brancos.
É importante notar que a diferença salarial é ainda maior para mulheres negras com menos instrução e em ocupações de menor remuneração. O rendimento médio dos ocupados brancos é de R$19 por hora, enquanto para os pretos e pardos, esse valor é bem menor (entre R$10,90 e R$11,30).
Essas disparidades salariais também se refletem na empregabilidade. Embora a taxa de desemprego para a população negra tenha caído nas últimas décadas, ainda é duas vezes maior do que a taxa de desemprego para a população branca.
De acordo com dados do IBGE, em 2019, a taxa de desemprego para a população negra era de 14,1%, enquanto para a população branca era de 6,7%. Essa diferença também é maior para as mulheres negras, que têm uma taxa de desemprego de 16,5%, em comparação com 10,5% para mulheres brancas.
Além das desigualdades salariais e de empregabilidade, as mulheres negras enfrentam desafios significativos em suas carreiras. Devido ao racismo estrutural, muitas vezes são subestimadas e negligenciadas em oportunidades de promoção e desenvolvimento profissional.
Essas oportunidades são importantes para o avanço em suas carreiras, mas as mulheres negras muitas vezes não têm as mesmas oportunidades que seus colegas brancos. Isso resulta em um menor número de mulheres negras em cargos de liderança, e a falta de representatividade pode ter impactos significativos em toda a empresa, inclusive em resultados do business.
É importante destacar que essas desigualdades são causadas pelo racismo estrutural que permeia a sociedade e as instituições. O racismo estrutural é uma forma de discriminação que é incorporada nas políticas, práticas e procedimentos, e que resulta em oportunidades desiguais para as pessoas de acordo com a sua cor ou raça. Embora o racismo estrutural possa ser sutil e invisível, suas consequências são muito reais e significativas.
O impacto do racismo estrutural na vida das mulheres negras, principalmente, é profundo e duradouro. Ele afeta não só a sua carreira e renda, mas também a sua saúde e bem-estar emocional. Muitas mulheres negras relatam altos níveis de estresse e ansiedade devido à discriminação racial que enfrentam no trabalho e na vida cotidiana.
Esses efeitos negativos podem se estender para a saúde física e emocional, e são ainda mais prejudiciais para as mulheres negras que se encontram em situação de vulnerabilidade ou enfrentam outras formas de opressão além do racismo.
Na educação, a diferença de acesso é evidente, onde as pessoas pretas e pardas estão presentes em menor quantidade no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em comparação com as brancas. Além disso, a taxa de homicídio entre pardos é o triplo da registrada entre brancos.
As desigualdades salariais, diferenças de acesso à educação, empregabilidade e carreira entre brancos e negros são evidências claras do racismo estrutural presente em muitas sociedades. É importante reconhecer que essas desigualdades têm um impacto significativo e duradouro na vida das pessoas negras e por isso é tão importante falarmos desse assunto.
Para enfrentar essas desigualdades, é necessário um compromisso sério e contínuo para a igualdade racial em todas as áreas da nossa sociedade, incluindo o mercado de trabalho. Isso inclui ações afirmativas e políticas públicas que abordem o racismo estrutural e garantam que as mulheres negras tenham acesso a oportunidades de educação e emprego com salários justos.
Empregadores e gestores também têm um papel importante a desempenhar na promoção da igualdade racial em seus locais de trabalho. Eles devem reconhecer os efeitos do racismo estrutural nas carreiras das mulheres negras e tomar medidas para garantir que elas tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento e promoção que seus colegas brancos.
Além disso, é importante que as pessoas sejam educadas sobre o racismo estrutural e como ele afeta as pessoas negras. O letramento é uma ferramenta poderosa para combater a ignorância e a intolerância, e pode ajudar a construir uma sociedade mais justa e equitativa. Vamos juntos e juntas mudar essa realidade e construir um Brasil mais justo para todas as pessoas?