O BNE – Banco Nacional de Empregos – realizou uma pesquisa entre janeiro e maio de 2021 que mostra um aumento de 22% no interesse das mulheres pela atuação na área de tecnologia. A pandemia da COVID-19 trouxe um novo cenário para o mercado e a área de tecnologia, que sempre foi muito aquecida, se destacou ainda mais.
“Com a pandemia, muitas profissões foram afetadas negativamente. Porém, outras tiveram grande crescimento de oportunidades, como é o caso da área de TI, que espelha a mudança comportamental do empreendedor e do consumidor após os efeitos da Covid-19 no país”, comenta Marcelo Abreu, CEO do BNE.
Outro ponto de destaque pandêmico é o fato de que o trabalho remoto trouxe maior liquidez para o mercado, aumentando as oportunidades juntamente com o aumento da distribuição geográfica dos desenvolvedores pelo território brasileiro, conforme apontado no Relatório de Profissionais de Tecnologia do Brasil, feito pela Revelo em 2021.
E com todas essas boas notícias, porque ainda não temos uma equiparação de ocupação no mercado de TI entre homens e mulheres?
Números que falam
Quando chegamos em números no detalhe, começamos a encontrar as diferenças que preocupam: ainda temos uma alta concentração de profissionais na região sudeste (59,33%), sendo que 41,11% estão em São Paulo. E, na sequência, vemos aquilo que ainda não se “resolveu”: 87,7% dos desenvolvedores são do gênero masculino, contra 12,3% do gênero feminino.
Ainda que o aumento das mulheres na área tenha sido de 60% entre 2014 e 2019, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), em números totais, ainda existe um grande distanciamento.
Também vemos uma disparidade salarial entre homens e mulheres, não apenas no mercado de tecnologia mas em outras áreas formais.
O estudo da Revelo mostra que homens ainda ganham, em média, R$ 1.000,00 a mais que as mulheres, exercendo a mesma função na área de TI. Em média, um homem recebe R$ 7.300,00, enquanto uma mulher tem a remuneração de R$ 5.900,00.
A questão racial também é ponto de atenção: a pesquisa #QuemCodaBr, realizada pela PretaLab em 2018, identificou que mulheres negras são apenas 15% das ingressantes em cursos de computação no Brasil.
O que ainda precisa mudar
Dentre as especialidades existentes na área de tecnologia, o relatório aponta que a maior representatividade feminina encontra-se na atuação como Analista de Qualidade, Product Owner e Business Intelligence. Nas posições Full Stack, Infraestrutura e Back-End, a proporção é de dez homens para cada mulher.
Esse cenário é resultado de associações que são ensinadas para as pessoas desde a base educacional. “As mulheres ainda são muito associadas a outras funções no mercado de trabalho, o que afasta a entrada delas no ramo da tecnologia”, afirma Camila Achutti, empresária e fundadora da Mastertech, e grande nome nacional no que se refere à atuação de mulheres na TI, em entrevista à CNN. Camila também comenta: “as meninas ainda são relacionadas às áreas de relacionamento e comunicação e os meninos na área de construção”.
Estudos desenvolvidos pelas universidades de Houston e Washington demonstram que crianças com 6 anos já iniciam o desenvolvimento de percepções onde meninas têm menor interesse em computação e engenharia do que meninos.
O relatório da Unesco – Unesco Science Report 2021 – reforça que as mulheres seguem sendo sub-representadas nas áreas de matemática, física, engenharia, computação e tecnologia da informação digital.
O sistema de aprendizado científico STEM – science, technology, engineering and mathematics – acaba ficando longe demais para as meninas, e isso reflete nos números de mercado que já citamos aqui.
Frente a todo o cenário apresentado, vemos a necessidade de ações afirmativas, buscando diversidade, conscientização, incentivo e pluralidade desde a formação de base.
O olhar diverso é o caminho para a inovação!
Segundo o estudo “Gender Diversity and Community Smells: Insights From the Trenches”, equipes diversas apresentam melhor comunicação e colaboração entre times.
Para que isso aconteça, tornam-se necessárias ações efetivas que gerem conscientização coletiva.
Os espaços acadêmicos precisam ser inclusivos, acolhedores e que proporcionem discussão igualitária. A conexão entre as diferenças nunca foi tão necessária, de forma a demonstrar a complementaridade e os ganhos que isso pode proporcionar.
Os grupos representativos também têm papel fundamental nesse movimento: a troca de experiências, a representatividade e um espaço seguro de fala podem gerar empoderamento e um ciclo de crescimento.
Não podemos esquecer das políticas públicas: o governo tem sim seu papel e ele é primordial.
Projeções e ações para esperançar!
Resgatando os números que já discutimos aqui, sobre a crescente da procura de mulheres pelo mercado de tecnologia, o Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea) apresentou uma projeção interessante: acredita-se que, em 10 anos, a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro deve crescer mais do que a dos homens em diversos segmentos – inclusive em ciência e tecnologia.
Tratando de políticas públicas, em 2022 foi aprovado no Brasil o parecer que define normas sobre o ensino de computação na educação básica, um complemento à BNCC – Base Nacional Comum Curricular.
A proposta não é apenas do uso de dispositivos tecnológicos nas escolas, mas sim, o trabalho do pensamento computacional e sua aplicação cotidiana.
Considerada para os três níveis educacionais de base, a proposta estabelece uma relação do aprendizado com a tecnologia durante a jornada educacional: educação infantil, ensino fundamental e médio.
O objetivo é que ao final desses ciclos, os alunos consigam construir soluções e tomem decisões com a aplicação de linguagens de programação de forma colaborativa.
Outro movimento importante são os grupos representativos. Temos muitos grupos que promovem ações de formação e troca para inserção das mulheres no mercado de tecnologia.
Podemos destacar aqui o PretaLab (plataforma que conecta mulheres que são ou que gostariam de ser da tecnologia), o Reprograma (iniciativa de impacto social para ensino de programação para mulheres cis e trans), She’sTech (rede de promoção de representatividade e conexões, por meio de apoio e aprendizado), Programaria (comunidade de empoderamento feminino por meio da tecnologia para diminuição do gap de gênero no mercado de trabalho).
Algumas ações também são promovidas pelas gigantes da tecnologia como #ElasnaIA e #SecurityGirls (Microsoft), Programa de Diversidade (Accenture), Mulheres em Cloud (AWS), entre outras.
E não podemos deixar de citar as universidades. Consideradas como centros de pesquisa e espaços de compartilhamento de conhecimento, apresentam programas de incentivo para ampliar a participação feminina na tecnologia. A seguir, alguns exemplos desses programas: bolsas de graduação para ingresso de mulheres na computação (PUCRS); USP Mulheres (iniciativas das unidades para equidade de gênero nas áreas científicas); Meninas Super Cientistas – UNICAMP (evento de incentivo a presença feminina nas áreas de exatas, tecnologia e engenharias).
Por fim, podemos falar do que está sendo feito “dentro de casa”. Nas turmas de 2022 da Korú os percentuais mostraram-se animadores: a primeira turma apresentou 68% de participação feminina e na segunda, 57%. Como política de incentivo, foram oferecidas bolsas para mulheres (parceria Grupo Mulheres do Brasil), para pessoas trans (parceria Todxs e Transempregos) e para mães.
Fonte: Programaria
Para concluir, citamos Ada Lovelace (1815-1852), mulher, mãe, matemática, escritora e criadora do primeiro programa de computadores da história: “Quanto mais estudo, mais sinto que minha mente nisso é insaciável.”
Vamos juntas, mulheres! #gotechgirls